sexta-feira, 10 de julho de 2015

Ele me chamou para tomar vinho


Eu não estava preparada - na verdade,  até agora não estou.
Era um dia normal, bem normal por sinal.
Em todas as nossas conversas, eu era a responsável por iniciar o assunto... Mas dessa vez foi diferente. Ele me surpreendeu.
Não que meu coração pulasse de felicidade antes, mas ele resolveu bater em descompasso.
O nome disso não é amor, por favor!  É apenas "eu não estava esperando por essa, porém você me deixou feliz".
Tem pessoas que passam por nossas vidas e são facilmente esquecidas, outras que guardamos uma espécie de raiva disfarçada de ironia para tentar esquece-las a todo custo além daquelas que sempre lembramos durante o dia - e noite, principalmente.
Mas existe um tipo único: as que fazem sorrir sem você nem perceber.
É um carinho tão forte que acaba deslizando pelos lábios da forma mais sutil e amável.
Sabe, eu já gostei de muita gente. Já me apaixonei algumas boas vezes também.
Algumas, eu gostei mais do que simplesmente gostar, mas não ao ponto de amar - tenho certeza absoluta disso.
Vamos ver se consigo explicar.
Existe uma parte dentro de nós livre de ciúmes, cheia de verdades, entregas e risadas. Essa parte é capaz de esquecer o stress do dia a dia, os preconceitos e os paradigmas.
Pense na união de excelentes amigos em um caso amoroso sem que ninguém saia machucado.
Confesso que, tecnicamente, isso parece perfeito - e é!
Mas eu não o escolhi, nem ele me escolheu. Por quê? Eu nunca parei para pensar se existia um motivo exato ou vários deles.
Foi assim e ponto. Não por nada, nem por ninguém.
Eu não era dele. Eu nunca fui dele. Eu nunca pensei em ser dele.
As horas que passávamos juntos eram como órbita.
Eu estava 100% ali. Se perguntassem o meu nome, provavelmente eu não saberia responder.
Funcionava como hipnose e quando eu voltava para a casa, o botão responsável por apagar tudo aquilo era ativado e voltávamos a ser apenas bons amigos.
Eu não telefonava, nem chamava.
Minha caixa de texto e email permaneciam vazios, mas eu não me importava.
Era como se existisse um começo e fim todas as incansáveis vezes que nos víamos.
Embora esse "fim" fosse algo simbólico, num belo dia, teve um ponto final de verdade.
Nunca mais nos vimos ou nos falamos.
Era um livro em branco. Sem fotos, sem tickets do cinema ou rosas secas de recordação. Mas eu juro, estava tudo bem.
Foram dias e meses. Meio ano praticamente.
Eu não esperava...
Depois de tanto tempo - do mesmo jeito de antes -, nos falamos.
Suave, o papo rendeu como as noites que passávamos na cama rindo de coisas inúteis.
Parece que nada mudou. Exceto pelo fato de que eu tenho alguém ao meu lado... E ele também!
Mas não nos importamos com isso, até porque não estávamos falando sobre sexo nem nada do tipo... Apenas falávamos sobre coisas da vida.
Talvez essa "vida" tenha pausado e deixado um espaço para a saudade que estávamos um do outro.
Então, ele me convidou para tomar vinho.
Se ele soubesse que não tenho o hábito de tomar vinho, e que meu refinado paladar para esse tipo de bebida alcoólica tenha variado entre aqueles galões de cinco litros e alguns outros perdidos em armários nos finais das festas, ele certamente me convidaria para tomar qualquer cerveja, sem essa de ser artesanal. Eu gosto mesmo daquela que aparece na propaganda do jornal.
Ele nunca me viu de salto alto, super maquiada ou de vestido colado. Muito pelo contrário...
Meu cabelo estava sempre bagunçado, porque ele praticamente arrancava 30% dele. Minha maquiagem - o resto que tinha, né? - ficava na fronha ou na camiseta dele.
Eu estava sempre descalça, de blusinha e uma calcinha aleatória.
Ele nunca me viu vestida de princesa e provavelmente nunca verá.
Sei lá, perderia toda a graça. E quer saber? O que me fez sentir saudade foi justamente a danada da graça.
A simplicidade com que um sempre tratou o outro.
Não precisávamos de jantares caros, aliás, eu sempre ia embora morrendo de fome porque o tempo passava tão rápido e eu só queria saber de aproveitá-lo da melhor forma possível.
Decidi não recusar!
Afinal, eu nunca soube dizer se o vinho que tomamos na casa dele era realmente muito bom ou se era tudo que estava ao redor dele.

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